A filósofa Anna Arendt escreveu sobre um tema deveras interessante e que pretendo efetuar um desenvolvimento nesse texto, que é: A BANALIDADE DO MAL.
Arendt desenvolveu sua tese após a entrevista com o carrasco nazista, Adolf Eichmann, vindo a perceber que ali não existia exatamente alguém desprovido de sentimentos, um monstro moral, mas sim, um medíocre burocrata do Estado alemão daquela época. Após essa entrevista, Arendt publicou um livro, onde expôs suas conclusões, com o título: “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal” (1963) .
Será que ela está certa, o mal pode se desenvolver, independentemente de termos sintomas de psicopatia ou crueldade mórbida? Acredito que sim! Basta fazermos uma análise da própria historia mundial e chegaremos, até de forma bem fácil, à mesma conclusão.
Vocês não acham desumano alguém poder dispor da vida e da liberdade de outras
pessoas? Pois aconteceu esse fato, até recente
em termos históricos, com a escravização de negros africanos. Será que a tortura, e assassinato, pode ser cabível, só por que alguém se opôs à ideologia dominante? Aí estaremos diante de uma ocorrência mais próxima ainda da data atual, basta lembrarmos dos horrores cometidos no período da Ditadura Militar que ocorreu no Brasil, à partir de 1964, em uma das páginas mais negras da história de nosso país. Muitos, ainda hoje, dizem que toda a crueldade cometida foi algo justo, correto, uma defesa de nossa soberania perante a “ameaça comunista”. Torturar um ser humano, matá-lo covardemente, é um ato de humanidade e de defesa válidos? Peço que façam uma análise e vejam se essa ocorrência difere muito do que aconteceu nos Campos de Concentração nazista.
Envolvidos pela aprovação geral, pode-se tudo! Sensibilidade, capacidade de verdadeira empatia, é que são raros. Seguir a mentalidade geral pode nos fazer cometer erros graves, crueldades, abusos, importa que sempre questionemos nossas próprias ações e a ordem vigente, a única chance de não permitir que o mal não se torne uma simples banalidade.
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O mal, filosoficamente, só existe por ambivalência. Ou seja, é preciso ter o bem para que o mal exista.
Creio que essa condição não está distante nas práticas humanas. A configuração de acontecimentos nos quais a decisão por um ato escuso se sobrepõe a uma ação serena, está atrelada aos objetivos que a ideologia impressa em tal situação continha. Para se atingir as metas, ainda que sombrias e nefastas, é inevitável que durante o percurso, o significado de bem e de mal oscilem em compreensão e intensidade, embora isso jamais afaste o estereótipo de mal já necrosado, imutável que a sociedade adotou.
De modo geral, é o tipo de coisa onde os fins jamais justificarão os meios e vice versa.
Concordo plenamente! Onde a dor, humilhação, maus tratos estiverem presentes, acho que existirá naturalmente um afastamento da verdadeira justiça.
“…vindo a perceber que ali não existia exatamente alguém desprovido de sentimentos, um monstro moral, mas sim, um medíocre burocrata do Estado…”
Uma reflexão impactante, que revela o quanto nossos sentimentos podem ser vulneráveis quando expostos a “ideologias” que elevam a sua supremacia acima da justiça.
Levando em consideração a provável formação educacional de um burocrata de estado como Adolf Eichmann, eu diria que a falta de capacidade de questionar, pode ser muito pior que a própria falta de conhecimento.